Depois que Dark Shadows faturou apenas metade de seu orçamento nas bilheterias americanas, agora é a vez de Frankenweenie dar dor de cabeça para Tim Burton. A animação, apesar de unanimemente elogiada pela crítica, não parece ter conquistado o público. Hotel Transilvânia rendeu quase quatro vezes mais no final de semana de estreia, faturando 42 milhões de dólares, enquanto Frankenweenie chegou nos 11 milhões. Atraiu menos gente na estreia do que A Noiva Cadáver (também de Burton) e ParaNorman, outra animação com tema semelhante. Levando em conta a inflação e o incentivo do 3D, até O Estranho Mundo de Jack foi melhor nas bilheterias, mesmo estreando em metade das salas de Frankenweenie e sendo considerado um fracasso na época. Isso 18 anos atrás.
Não é difícil entender os motivos. Hotel Transilvânia tem Adam Sandler e Selena Gomez, Frankenweenie tem Martin Landau e Christopher Lee. Além disso, o visual alegre de Hotel Transilvânia tem mais apelo popular. Frankenweenie parece um tanto sinistro para as crianças.
Burton já teve fracassos seguidos antes (tanto Ed Wood quanto Marte Ataca afundaram na bilheteria), mas atualmente há dúvidas se o fator que torna seus filmes tão caracteristicos não é o mesmo que afasta o grande público. Muita gente viu Alice no País das Maravilhas, mas quantos gostaram de verdade do filme? Será que a “estética Burton” agora é mais um alerta do que uma promessa?
Talvez não. Tim Burton sempre se saiu melhor quando trabalhou com criações alheias já consagradas. Batman, Planeta dos Macacos, A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça, A Fantástica Fábrica de Chocolate e Alice são os maiores sucessos de sua carreira. Quando parte para um projeto mais pessoal, ele ainda mantém uma audiência cativa, pequena mas fiel. Quando o orçamento é modesto, como em Frankenweenie, o prejuízo não incomoda. Quando não é (caso de Dark Shadows), isso já vira um problema.
Tudo isso deve estar passando pela cabeça de Burton agora, enquanto escolhe seu novo projeto. E ele tem várias cartas na manga. Com a decepção de Frankenweenie, infelizmente dois projetos que pareciam promissores devem ser adiados: uma animação em stop-motion da Família Addams e outra chamada A Noite dos Vivos, mantendo a tradição dos temas sinistros. A adaptação de “O Abrigo da Srta. Peregrine Para Crianças Peculiares” está em ponto morto, já que o livro não é exatamente um best-seller e portanto há dificuldades para se conseguir grandes nomes para o elenco. A Warner parece já ter aprovado o roteiro de Pinóquio com Robert Downey Jr como Gepeto, mas não há mais notícias a respeito, assim como da versão de O Corcunda de Notre Dame com Josh Brolin. Outro projeto que infelizmente deve ser adiado é Monsterpocalypse, já que Spielberg pretende lançar Robopocalyse em 2014 e ninguém quer confundir os dois títulos. Faltou falar de Os Fantasmas Se Divertem 2. Mas como o roteiro ainda nem foi escrito, vamos deixar pra lá. Tim Burton chegou a ser considerado para Piratas do Caribe 5, mas se isso vai acontecer ou não, só o tempo dirá. Seria curioso, no mínimo.
Talvez o que Tim Burton precise agora seja um filme onde seres humanos sejam o foco, mais do que o desenho de produção. Filmes pequenos e com potencial lucrativo como Big Eyes, com Reese Witherspoon e Ryan Reynolds, ou a adaptação do livro cult Geek Love (sobre um circo onde as crianças são fruto de experiências genéticas realizadas pelos próprios pais) seriam boas maneiras de se atrair não apenas os fãs de Burton, mas também o grande público.
Vamos esperar apenas que os últimos seis meses o encorajem a assumir mais riscos, em vez de cair na mesmice de outro filme com Johnny Depp fazendo papel de bobo.